terça-feira, novembro 16, 2010

UM NOVO ANTONIO, UM NOVO COMEÇO...

ANTONIO era o nome do meu avô materno. Não lembro de ter havido alguém com mais influência em minha vida, desde que me entendo por gente, como se costuma dizer quando se brinca de tentar lembrar da primeira memória (e você, que me lê, do que lembra quando brinca assim?).
Lembro da Vila Cabralzinho (perto do Arsenal de Marinha), que não foi nem meu primeiro local de morada em Belém, mas foi o lugar em que me criei, muito bem acompanhado de todas as brincadeiras e traquinagens que faziam felizes as crianças de ontem, muito mais que as de hoje.
E o vovô Antonio, descendente direto das boas terras de Portugal, vinha sempre nos visitar, desde lá de São Sebastião da Boa Vista, município de onde fui gerado.

Era sisudo, alto que nem um poste e, do que me lembro e do que conta minha boa mãe, não dava muita bola para moleques da minha idade. Isso é o que sempre me intrigou. Desde cedo, botou os olhos em mim e me escolheu para ser uma espécie de neto favorito: para recados, compras, boas histórias e estórias, de comprar sorvete e doces, de leituras sem fim e de muita palavra cruzada. Também lembro, e talvez seja este um dos motivos desta bemquerência, das cartas que trocávamos, ricas em todos os sentidos, principalmente por ser pouco comum, um garoto de menos de 10 anos de idade se correspondendo com o avô no interior (nota: não era por correio convencional, mas por portador).

Autodidata, tinha uma coleção imensa da revista Seleções, na mesma casa em que minha mãe morou. Sempre olhei com olho grande para aquela pilha, que acabou não sendo minha e, provavelmente, acabou em algumas privadas escuras de BV.
Pôs em mim meu primeiro apelido, doutorzinho. Não tenho a menor idéia do que o levou a isso, mas sou levado a desconfiar que tinha algo de cdf naquela época. Ao final de sua vida, quando fomos chamados ao interior para seus momentos finais, depois de mais de um dia, no momento de seu suspiro final, eu estava lá segurando sua mão, que se esfriou lentamente e da qual não queria soltar. Vesti-o para o velório e esta é uma memória viva de alguém tão especial para mim.

Pois bem. Anos mais tarde, em 2000, Samantha esperava um bebê e teríamos que escolher um nome. Espertamente, propus que dividissemos a tarefa. Se menina, ela escolhia. Se menino, o nome não poderia ser outro - Antonio, a homenagear meu avô.
Nasceu a Gabriela, um presente lindo que me alegra os dias e que se tornou ao longo destes dez anos mais do que uma filha, uma grande "amiga mirim", a quem procuro passar alguma coisa do que aprendi e com quem aprendo a cada dia como me tornar mais tolerante e paciente. Cheiro de cravo, cor de canela, prazer de conhecer, Gabriela.

Passaram-se dez anos e muita coisa aconteceu em nossas vidas, tanta coisa que aqui neste espaço não cabe. Cabe resummir dizendo, no entanto, que depois de dez anos estávamos juntos os três novamente, eu, Sam e Gabi, a esperar um novo membro da Família. Seria um menino, e o nome já havia sido escolhido lá no início desta saga - era um novo Antonio que estava chegando, a me lembrar todos os dias do avô que tive e que tanto me marcou.

Antonio chegou para a gente no dia 23 de outubro, dia de São João de Capistrano (segundo o que o Google informou, vá lá). Pesava 3.140 gramas e media um centímetro menos que meio metro. Nasceu com muita fome e desde então passou a fazer do ato de mamar sua atividade predileta, além de outras menos cheirosas e tantas ruidosas.
Não vou ousar usar o chavão: "é a cara do pai". Mas cá pra nós, também não era nenhuma cara de joelho. Nasceu com traços definidos, sereno como todo bebê que nasce com saúde. Méritos da insistência, paciência e amor de sua mãe, que segurou a impertinência e a pressa do moleque em sair da útero desde os cinco meses de gravidez. Obrigado, Sam, por mais uma criança que virá para me preencher a rotina, já tão atribulada, mas sempre com folga para aprender com os pequenos.
Ave Antonio, seja bem-vindo. Que a vida te reserve muitas coisas boas, entre todas as experiências que irás ter nesta breve existência aqui em Gaia. Carpe Diem, meu pequeno. Seja feliz, que seja essa tua obrigação maior.

segunda-feira, maio 10, 2010

Passeio de bike pelas escolas da minha vida...

Dos prazeres que insisto em manter (ok, alguns dirão que ainda mantenho muitos...), pedalar minha bike é um dos que mais me dá retorno em prazer e, de quebra, em um pouco de atividade física. Nos domingos, tiro vantagem de minha insônia e pulo da cama direto para o selim da magrela (na foto ao lado, além dos manetes da minha schwinn se vê ao fundo a escultura do píer da casa das onze janelas e a oponência do rio Guamá). Vantagens: a esta hora da manhã o sol ainda está "frio" e o trânsito mais (muito mais) civilizado.


Faço a cada domingo mais ou menos o mesmo circuito, que reúne um pouco de nostalgia e a rara oportunidade de passar por pontos que a rotina do dia-a-dia me afasta cada vez mais. Hoje vou aproveitar para contar sobre o passeio do último domingo, em que visitei as escolas que me formaram aqui em Belém...


De casa, parto em direção à BC, quase sem sol ainda, dou umas voltinhas só para ver quem está por lá. Depois parto em direção ao primeiro pit-stop: Instituto Padre Guido Del Toro (em alusão a um padre jesuíta que faleceu em Belém, em 1968, com 90 anos de idade), na praça do Arsenal. É mais fácil para muitos identificar como um prédio de construção antiga que fica na esquina do corredor de gente em que se transforma, aos domingos, aquela rua ao lado do Arsenal de Marinha que leva ao Mangal das Garças e ao ... Mormaço.


Esta foi minha primeira escola (pelo menos do que me lembro...). Tratava-se de uma escola mantida por padres italianos ligados à Prelazia de Ponta de Pedras. Do fundo do hipocampo trago a imagem de Dom Angelo, padre simpático que gostava de jogar conversa fora, dos professores e, especialmente, da "dona" da escola, Dona Nerina, uma italiana enfezada que ficou marcada na minha memória pelos gritos que dava ao ver algum petiz em flagrante delito: "Ei-la menino!!!" Dentre os muitos com quem estudei por lá, lembro do Jacinto Kahwage, que hoje é um renomado músico da terra, mas que era o bagunceiro-mor da escola. Também estudei com os filhos do Professor Hermes, que mais tarde viria a ser meu colega de Departamento na UFPA (por pouco tempo antes do mesmo se aposentar). Pena que já não funcione mais, apesar de perceber pela rua lateral que leva ao Mormaço que estão reformando o prédio (sem preservar a arquitetura original, a julgar pela substituição de janelas por vidros... argh!!!).


De lá, seguindo a cronologia das escolas, fui para o largo do Carmo, na cidade velha, onde o silêncio das 7:30 da manhã era apenas quebrado pelos sons dos hinos católicos vindos da Igreja do Carmo, mais uma contribuição de Landi para Belém, e uma das mais antigas igrejas da cidade (c. 1766). Apesar de ter estudado no Colégio do Carmo por apenas um ano, tenho lembranças marcantes deste tempo, em que o colégio tinha uma melhor reputação e abrigava os filhos da nata da sociedade belenense. Algumas curiosidades: morava no Arsenal (vila Cabralzinho) e ia a pé ou de carona com vizinhos para lá (em um jipe maneiro), junto com meus dois irmãos mais velhos, Edson e Edilson. Na maioria das vezes, no entanto, ia mais cedo, a tempo de assistir a missa, que ocorria 30 minutos antes de se iniciarem as aulas (quem poderia imaginar, huh?). Também lembro dos campeonatos de futebol, muito movimentados, e dos sábados em que o colégio fervilhava de agitação, com muitas atividades esportivas. Lembro da "balada mexicana", que tocava religiosamente a cada dia no horário do recreio (santa falta de criatividade...), uma esepécie de lavagem cerebral. Comecei a estudar inglês como curso extra e me preparei e fiz a primeira comunhão no colégio, ao tempo do padre Pietro Gerosa como diretor. Sabia de cor a biografia de Marcelino Champagnat (Fundador do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria e dos Irmãos Maristas das Escolas), o que me lembra de que nesta época era era menos crítico e mais crente, ainda bem antes da revolução que o apego à ciência causou em minha forma de conceber o universo e suas origens.



Já voltando, passei por outra escola, pública e que gozava de ótima reputação na época (estamos no final da década de 70, ok?), que muitos nunca ouviram falar. Trata-se da Escola Caldeira Castelo Branco. Estudei lá desde a 6a. série até o final do ensino fundamental (primeiro grau, na época). Fiz grandes amigos (o melhor deles, Jesus Nazareno, vejo até hoje, embora menos do que gostaria), a primeira namorada (ou algo parecido com isso) e amadureci bastante em três anos realmente maravilhosos. Muitos dos mestres que conheci serviram-me de inspiração, pelo exemplo, pela abnegação e, principalmente, pela dedicação, em um tempo em que era motivo de orgulho ser professor da rede pública. Do "Caldeira" saí formado em matérias da vida, as quais provavelmente não conheceria em um colégio particular.


Naqueles tempos, já no início da década de 80, tinhamos que nos submeter a um teste de seleção para entrar nos colégios do segundo grau (hoje ensino médio). Junto com diversos amigos e com minha irmã, Elinete, que a esta época estudava na mesma série, fizemos o teste para entrarmos no Liceu Paraense (denominação de outrora do CEPC - Colégio Estadual Paes de Carvalho), que acabou sendo o reduto onde finalizei meus estudos no ensino médio. No Paes de Carvalho me tornei xaréu (apelido dado pelas piramutabas do IEP, naquela época exclusivo para moças que queriam fazer carreira no magistério). Conheci tanta gente boa, alguns ótimos professores - Marconi, Orlando (já falecido), Paulo da Química, Zé Carlos, Guigui, etc - fiz minha segunda namorada (Maria Benedita), meu grande parceiro Augusto (com quem estabeleci uma amizade que se tornou fraternidade), Syme Bemmuyal (que se juntou a mim na Biologia da UFPA), Mozart, Pena, Braga e Rosivaldo (que já estudavam comigo desde a época do "Caldeira"), Valderez, Franci, Walter Cancela (hoje renomado professor de química), Junior (acho que o nome dele é Hegezipo), Marcioni, e tantos outros parceiros de jogos de futebol de salão, serestas (era como chamávamos a reunião que envolvia batucada e cachaça) e, de quebra, muito estudo, já que naquela época o ensino médio não preparava para o vestibular. Ao final, poucos foram aprovados no vestibular e assim eu entrei para o curso de Biologia da UFPA, ainda um moleque de dezesseis anos. Mas isso é assunto para outro post. Inté!
OBS: As fotos acima (exceto a última, extraída do site skiscrappercity) foram geradas, com alguma pressa e medo de gatunos, com a câmera do iphone, assim desculpem a falta de melhor qualidade...